quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

What is the... Avatar?!?!

Impossível para mim, que sou fã alucinado de Matrix (já assisti 32 vezes), não fazer algumas ligações entre os filmes. São muitas que eu reparei, mas vou falar apenas daquelas que acham que me fizeram dormir com a pulga atrás da orelha.

É fato que Avatar, assim como Matrix em sua época, será um filme que servirá como divisor de águas. Na época de Matrix, os filmes de ação e as questões relacionadas a efeitos visuais se dividiam pré e pós Matrix. Acho que isso ocorrerá também com Avatar. Mas como em Matrix, não apenas será uma divisão em relação cinematográfica.

A história dos dois filmes tem pontos bem parecidos: um mocinho, que inicialmente não faz parte da galera do lado do bem (ou não faz parte de lado nenhum), tem que provar sua lealdade, e acaba se tornando um líder e salvador. História mais do que batida! Mas é uma fórmula para o sucesso! Não há como negar. Nós, como seres humanos que somos, desejamos por muitas vezes pensar exatamente isso: que a qualquer momento algo poderia nos tirar de nosso estado de estabilidade e nos levar a aventuras, onde seríamos responsáveis por salvar pessoas...

Pode parecer estranho, mas se pararmos para analisar, todas as histórias são mais ou menos assim... Frodo, que vivia tranquilamente no condado, até que é chamado por Gandalf e vai viver aventuras em toda a Terra Média (Senhor dos Anéis). Os irmãos Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia, que são levados do nosso mundo para o mundo de Nárnia, onde vivem aventuras e salvam os habitantes de lá. E até mesmo histórias mais simples: Peter Parker, que após ser picado por uma aranha radiotiva, ganha superpoderes e passa a ficar a margem da sociedade como um todo, lutando por esta.

Os protagonistas também estão sempre se perguntando se aquilo que vivem é um sonho ou realidade. A nova realidade que para eles é apresentada permite tantas coisas desejadas que não há mais vontade de voltar. Todos os dois apresentam aquela cara de decepção quando não estão mais "conectados". Para Jake Sully, de Avatar, esta situação é ainda pior, dado que ele não possui os movimentos da perna.

Avatar - O filme que veio para trazer outra forma de pensamento

A palavra avatar tem sua origem no hinduísmo, que representaria uma divindade que por vontade própria teria descido dos Céus até a Terra. Ou seja: um avatar seria a representação física de um Deus na terra. Como exemplos de avatares, podemos citar Buda, Vishnu, Jesus.
(http://www.nytimes.com/2008/08/10/magazine/10wwln-guest-t.html?_r=2&scp=2&sq=avatar&st=cse&oref=login)

É bem interessante pensar no fato de que no filme, os Humanos são chamados de Povo do Céu. Seria isto alguma referência para que eles seriam avatares de Deuses?! Não creio, mas acho que o contrário pode se aplicar... O filme mostra a relação dos Na'vi com a natureza, e como esta ligação é forte.

A idéia primordial é que avatar seria o "boneco" semi-humano, criado a partir do DNA dos Na'vi com dos humanos. Mas seria este realmente a idéia que o filme quer deixar ao terminar? Tirem suas próprias conclusões.

Outra coisa que o filme provoca é o pensamento sobre como estamos cuidado de nosso planeta. Não estava querendo assistir o filme, visto que normalmente quando a crítica do filme é boa eu não gosto... Mas depois de ter lido na internet que várias pessoas estão entrando em depressão depois de assistir o filme, tive que ir para tentar entender o que estava levando tais pessoas a este nível de sentimento. E agora entendo.

Como pagão, lembro que no início dos meus estudos, vi que algumas idéias pagãs são seguidas nesta linha: toda forma de vida é representação da natureza, e até mesmo os deuses adorados nada mais são do que representações desta natureza. Na própria mitologia grega, o início de tudo se dá com Gaia, a Mãe Natureza. E o filme coloca exatamente esta visão: tudo e todos somos parte da natureza, que é a Divindade existente.

Boa parte da sociedade é criada com base nos conceitos e concepções judaico-cristãs. E nestas concepções, não há espaço para pensarmos na natureza como parte de uma divindade, ou até mesmo sendo ela a maior representação da divindade. Então para tentar entender este conceito, temos que parar de pensar um pouco com as mentes judaico-cristãs. E aceitar a realidade apresentada pelo filme.

Acho que infelizmente, são poucas as pessoas que nutrem um sentimento tão puro, forte e bonito a ponto de entender o que os Na'vi sentem em relação ao mundo deles. Talvez seria o mesmo sentimento que os pais sentem por seus filhos. Ou talvez seja até mais forte. Afinal, do jeito que o mundo está, nem sempre os pais estão dispostos a morrerem por seus filhos. É um amor incondicional, e entendimento de que toda a vida vem e depende da Deusa florestal, que no filme recebeu o nome de Eywa.

Para eles, Eywa é um quase um ser, que vive em tudo e em todos. E que ao se olhar para a floresta, estaria se olhando para ela. Ao cheirar uma flor, pular sobre as árvores, e até mesmo na hora de matar um animal, seja por defesa ou por caça. Ou seja: vivo ou morto, eles fazem parte de Eywa. E Eywa sempre preza pela equilíbrio da vida.

E na visão deles, todos e tudo está conectado. A perda de um é a perda de todos. A perda de uma simples árvore é motivo para choro. Todos estão ligados, tanto com a natureza quanto uns com os outros, como meu braço está ligado ao tronco.

Talvez, nosso maior problema hoje seja realmente achar que não estamos conectados. Pode não parecer, mas estamos. Assim como também estamos conectados com a natureza (ou o que ainda não destruímos dela). Ligo o jornal e vejo catástrofes acontecendo, como se não houvessem culpados. Mas há. E muitos. A "desconexão" que criamos hoje faz com que simplesmente ignoremos os fatos que realmente importam. Continuamos poluindo os rios, os mares, o ar. Continuamos achando que somos "donos" deste planeta, sem perceber que somos apenas hóspedes deste luxuoso hotel que nos foi dado. E como todo hotel, a gerente está começando a nos cobrar por todos os danos que causamos.

Ao que finalmente, me remete novamente a Matrix, onde o agente Smith diz:
"Eu gostaria de te contar uma revelação que eu tive durante o meu tempo aqui. Ela me ocorreu quando eu tentei classificar sua espécie e me dei conta de que vocês não são mamíferos. Todos os mamíferos do planeta instintivamente entram em equilíbrio com o meio ambiente. Mas os humanos não. Vocês vão para uma área e se multiplicam e se multiplicam, até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única forma de sobreviverem é indo para uma outra área. Há um outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Um vírus. Os seres humanos são uma doença. Um câncer neste planeta. Vocês são uma praga. E eu sou a cura."

Em Matrix, a forma de combate era os agentes. Em Avatar, os Na'vi combatiam este instinto de destruição humano. E no mundo real... bem, no mundo real, a própria natureza tem feito isso...





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